Com coragem, assim como quando o fez em outro sentido, o Pimenta na Muqueca publica uma nota em que reconhece a precipitação em acusar servidores municipais do Departamento de Tecnologia da Informação da prefeitura de Itabuna.
Ao mesmo tempo, o blog revela os fatos que levaram seu editor a supor (diríamos a ter certeza, mesmo), que os ataques sofridos pelo site, que deixaram a página fora do ar há quase 15 dias, havia partido daquele setor.
Quanto ao Trombone, assim como repercutimos a acusação, o fazemos também agora, publicando a íntegra da mea culpa do co-irmão. Segue o texto.
O Pimenta publicou no dia 25 de abril um artigo forte, indignado, que atingiu injustamente servidores do Departamento de Tecnologia da Informação da Prefeitura de Itabuna. O texto não resultou de postura leviana ou intenção gratuita de agredir, mas de uma revolta diante de uma sequência de fatos que levaram os responsáveis por este blog a acreditar piamente que estavam sendo alvo de uma ação criminosa. E pior: orquestrada na esfera do poder público municipal.
Tudo começou no dia 16 de abril, quando o sistema de emissão de nota fiscal eletrônica fornecido à Prefeitura pela empresa Siapiss foi repentinamente tirado do ar. Os contribuintes, surpresos, perplexos, não entendiam o que estava ocorrendo. A Prefeitura dava suas explicações, que não satisfaziam. Um sistema foi retirado do ar e outro, ainda em fase de testes, entrou em operação.
Nos primeiros dias, um caos. De um lado, empresários e contabilistas sem conseguir emitir sequer uma nota fiscal; do outro, o secretário de Planejamento da Prefeitura, Maurício Athayde, declarando que o seu sistema era melhor em todos os sentidos e só faltava o contribuinte se familiarizar. Não era bem assim.
Ao contrário da informação oficial, cerca de uma semana após a entrada do novo sistema em operação, os itabunenses ainda não conseguiam ver as virtudes da invenção. Somente os defeitos. Quem conseguia entrar no site do serviço tributário não avançava muito. Emitir uma nota era quase como acertar na loteria. Os empresários se revoltaram, a Associação Comercial e Empresarial de Itabuna (ACI) pediu explicações, a OAB idem. E o Pimenta, logicamente, cobrou sempre, desde o início, porque a imagem não era tão bonita quanto a Prefeitura pintava.
No dia 22 de abril, após as 17 horas, o Pimenta na Muqueca saiu do ar. Quem acessava a página, lia uma informação indicando problema no banco de dados. Muitas pessoas ligavam para saber o que estava ocorrendo e houve também quem ligasse para tripudiar. Alguns instantes após a "pane", este blogueiro recebeu telefonema de alguém se apresentando como funcionário de uma loja de veículos, que falava em tom jocoso sobre o problema em nossa página, afirmando que nós – "blogueiros fora do ar" – não teríamos condições para criticar o sistema de emissão de notas da Prefeitura.
Não foi difícil descobrir que o tal "funcionário da loja de veículos" era servidor da Secretaria de Planejamento e Tecnologia (o número de telefone, devidamente registrado, começa com 8859 e termina com 99).
Quase no mesmo horário, o painel de controle do blog recebeu diversos comentários ofensivos, quase todos com o mesmo I.P., tudo arquivado para o uso que se fizer necessário. Poucos comentários eram amenos, limitando-se a defender o sistema da Prefeitura; a maioria atacava moralmente os responsáveis por este blog ou ameaçava promover ataques à página. Uma das mensagens, assinada com o pseudônimo Vladimir Levin, dizia: "Fala c***zões do Pimenta, o site saiu do ar algumas vezes hoje né?(risos). O site de vcs é f****dido mesmo. Mesmo hospedado na Locaweb, deu nem pro gasto. Apenas duas ferramentas usadas e pimba (pau na conexão do banco de dados. Aguardem outras novidades".
Foram muitos outros comentários de teor semelhante, que acabaram nos levando a produzir o artigo do dia 25, em que acusamos os programadores do DTI de serem os autores das ofensas e ameaças. Houve indícios fortes, começando pela motivação (nossas críticas ao sistema de emissão de notas fiscais), depois observando o teor dos comentários (linguagem de quem conhece do riscado) e, para completar, a ligação de um funcionário diretamente subordinado ao secretário de Planejamento e Tecnologia (ou alguém que usou o telefone do mesmo).
Eram muitos indícios, mas ainda assim fomos levados a entender que extrapolamos na reação, por termos respondido de maneira generalizada e atingido todos os servidores daquele Departamento. Não é justo que o tratamento de "cracker" seja atribuído a quem não se envolveu com a tentativa de invasão e com as ofensas dirigidas a este blog. E a injustiça é algo com que não pretendemos compactuar.
O Pimenta na Muqueca tem sido, ao longo dos últimos quase quatro anos, um veículo de comunicação que busca atuar com a verdade e defender sempre o interesse público acima de quaisquer outros. Temos pagado um alto preço por isso, mas não nos arrependemos um só instante do caminho escolhido, que nos assegura a consciência tranquila.
Lamentavelmente, alguns acham que ainda podem coibir a liberdade de expressão com ações criminosas, como faziam os empasteladores de jornais da primeira metade do século passado. Mal sabem eles que com tais atitudes apenas fortalecem este blog, trincheira da qual estamos cada vez mais dispostos a promover o bom combate.