Daniel Thame | [email protected]
As explicações para esse ódio visceral da parte que ocupa o topo da pirâmide da mídia (Globo, Folha e Estadão), podem revelar um preconceito contra o operário semi-analfabeto que se transformou no maior presidente da história do Brasil.
Podem também revelar que essa parcela da mídia, extremamente conservadora e não raramente reacionária, não se conforma que a despeito de todo o seu suposto poder de fogo (em alguns momentos um fogo cujas labaredas atingiram níveis mercuriais), Lula se elegeu em 2002, se reelegeu em 2006 -depois de passar pelo inferno do superdimensionado mensalão- e em 2010 conseguiu a proeza de eleger a até então desconhecida Dilma Rousseff, enfrentando uma das campanhas mais sórdidas, nojentas e baixas da história recente do país.
Podem revelar, simplesmente, a ojeriza que esses senhores que se consideram donos daquilo que se convencionou chamar de opinião pública (mas que no mundo real são donos apenas da própria opinião) a um fato inegável: Lula democratizou a distribuição das verbas publicitárias do Governo Federal, pulverizando-a em veículos de comunicação de todo o Brasil.
Verbas que, sob os governos pré-Lula, eram extremamente concentradas na grande mídia.
Em seus dois mandatos, Lula ampliou de 499 para 8.094 o número de jornais, revistas, emissoras de radio e televisão, sites e outros meios de comunicação que recebem verbas de publicidade do governo. Até 2002, eram contemplados com a mídia oficial veículos de 182 municípios, número que saltou para 2.733.
A mídia, antes concentrada em tevê, rádio e jornal/revista se estendeu a portais de internet, cinemas, out-doors, painéis em espaços de grande circulação e até carros de som.
Traduzindo: com mais verbas publicitárias, os pequenos veículos investem em modernização e em bons profissionais e se fortalecem, possibilitando à população o acesso a novos canais de comunicação e fugindo da imposição da verdade quase absoluta que imperou durante décadas num sistema extremamente concentrado nas mãos de uma oligarquia midiática.
Mais do que verbas, a grande mídia -e é nisso que residem os temores e talvez seja isso que justifique parte desse rancor- perde o monopólio da comunicação, a exclusividade de determinar o que o certo e o que é errado, quem é bom e quem é ruim.
E isso não é ruim, é péssimo, para quem acreditou que não era apenas o quarto poder, mas às vezes o primeiro e único poder, a determinar os rumos de um governo ao sabor de seus interesses e dos interesses de seus aliados.
O ranger de dentes, a crítica incessante ainda que trombando com os fatos e as tentativas de desestabilizar o governo, certamente prosseguirá durante o governo de Dilma Rousseff.
Mas, graças à democratização das comunicações, possibilitada entre outras coisas pela ampliação da distribuição das verbas de publicidade federais, essa mídia pistoleira continuará dando tiros a esmo.
Como se viu em 2010, a soma de pequenos Davis já tem força suficiente para fazer o gigante Golias engolir a própria voz.
Daniel Thame é jornalista, blogueiro e autor do livro Vassoura