Por Arnold Coelho
Vivemos os últimos dias em Ibicaraí um problema antigo e que tem acontecido com frequência nos últimos anos: a falta de água na torneira. O Serviço Autônomo de Água e Esgotos (SAAE) de Ibicaraí é uma autarquia municipal que cambaleia há vários anos com a falta de investimentos.
De onde devemos esperar esses investimentos? A resposta é simples: do consumidor. O investimento na modernização de uma autarquia municipal precisa vir de quem usufrui do serviço, nesse caso, o povo.
Gosto muito de uma frase da saudosa Dama de Ferro Inglesa, Margaret Thatcher, que dizia: ‘Não existe essa coisa de dinheiro público, existe apenas o dinheiro dos pagadores de impostos’. Precisamos de água para viver e é preciso pagar por esse serviço.
Tenho dito há anos que a água de Ibicaraí é boa e muito barata. Para se ter ideia dos baixos valores cobrados pelos 10 mil litros mensais de água que o SAAE disponibiliza para o consumidor, basta comparar o valor da conta de água com a de energia. Eu consigo viver sem energia, mas não consigo viver sem água. Minha conta de luz é seis vezes maior que a conta de água e eu pago sem reclamar.
Não estou aqui defendendo mais aumento em plena crise, e sim, uma adequação de valor. Fiz um artigo em 2009 defendendo essa tese e na época eu falava dos baixos preços cobrados pelo SAAE e a consequente falta de investimentos da autarquia. Quando vejo os distritos pagando míseros 10 reais por 10m3 ou 1 real por mil litros de água, eu lembro da grave crise hídrica de dezembro de 2015, quando cheguei a pagar R$ 80,00 por mil litros.
Para ter uma ideia do quanto é barato a nossa água, entre em um supermercado e compre uma garrafa de água com 500ml e faça a comparação de preços. Vi outro dia um comparativo entre o SAAE de Ibicaraí e a Embasa de Floresta Azul. Os preços são parecidos, com um agravante, nós recebemos 10m3 e o consumidor de Floresta só recebe 6m3 pelo mesmo valor. Vale ressaltar que a nossa vizinha cidade tem uma grande represa feita pelo Governo do Estado e mesmo assim, proporcionalmente a sua água é mais cara.
O verão está chegando com a promessa de grandes estiagens e não é preciso bola de cristal para dizer que vai faltar água. Precisamos parar de fazer politicagem e começar a fazer política pública – com uma ampla discussão sobre esse assunto – entre os poderes que nos cercam e a sociedade civil organizada.
Precisamos de audiências públicas na sede e nos distritos para debater com o povo esse assunto tão sério. Precisamos de um Conselho Municipal da nossa água, para fiscalizar o SAAE, a ETA, as nossas pequenas represas de contenção e principalmente das nossas inúmeras nascentes que precisam de cuidado e proteção. Precisamos cobrar dos nossos deputados emendas para a construção de uma represa de acumulação em nosso município.
Falando em nascentes, quero dizer para a população local que temos cerca de 100 nascentes em nosso município e precisamos protegê-las, implantando o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Toda nascente nasce em alguma propriedade particular, e nós, consumidores, precisamos pagar para o agricultor de água proteger essa nascente.
Defendo a criação de uma Taxa de Manutenção de Nascente, inserida na conta de água. Seria um valor irrisório, que multiplicado pelas milhares de casas de Ibicaraí, daria um valor razoável. Esse recurso extra seria destinado para a manutenção e proteção dessas nascentes, com a fiscalização de um guarda florestal; compra de arame e cerca; compra e doação de mudas de árvores para reflorestar áreas desmatadas, além do pagamento por ponto de nascente para o dono da propriedade. Já existem cidades na nossa região que funciona o PSA.
A Estação de Tratamento (ETA) precisa de investimento a curto prazo, com a construção de dois tanques (um floculador e um decantador), além da troca de boa parte da adutora que corta a cidade e ainda é de amianto. É preciso mais uma bomba para ficar de reserva. Essa semana o SAAE relatou esse problema para os munícipes.
É justo dizer que o SAAE nunca parou de trabalhar. No governo petista foi feita a ampliação nas represas do Luxo e da Serra da Banha e a troca de cerca de 2km de adutora de amianto para PVC; e no governo passado o SAAE ampliou a represa na fazenda Tupã e trocou 1.920 metros de adutora de amianto por tubos de PVC. Investimentos foram feitos, mas ainda é pouco.
Tenho visto a luta da atual gestão e do diretor do SAAE, Thallis Leal, tentando resolver os problemas da autarquia (que são muitos), mas volto a dizer que não existe milagre em gestão, é preciso ter investimento e infelizmente boa parte desse investimento para modernizar e melhorar o serviço do SAAE depende do consumidor.
Vi outro dia uma polêmica com relação a um ‘aumento indevido’ do SAAE e o fato é que não houve aumento e sim consumidores que pagavam tarifa 01 e foram relocados para a tarifa 02, pois existem critérios para estar em uma determinada tarifa. Os valores continuam os mesmos.
Eu sempre defendi e continuo defendo o aumento de todas as tarifas – dentro da nossa realidade – e uma rígida fiscalização com esse dinheiro arrecadado. Essa fiscalização ficaria a cargo do Legislativo municipal e um Conselho da Água. Com dinheiro em caixa o povo pode cobrar e exigir de forma justa um melhor serviço e água na torneira.
Arnold Coelho é Designer Gráfico, Diagramador, Jornalista MTB 6446/BA