Foi revestida de grande simbolismo a entrevista coletiva do secretário da Educação de Itabuna, Gustavo Lisboa, para prestação de contas das ações de sua pasta nesse fim de 2010. Chamou a atenção a coragem de abrir o leque de informações da secretaria para um público qualificado, formado por repórteres, blogueiros e empresários da comunicação.
Mas não foi só isso. Esse blogueiro, por exemplo, não conseguiu tirar da cabeça a comparação entre os secretários Lisboa, da citada Educação, e Antônio Vieira, da Saúde. Um abismo os separa. Aliás, a bem da verdade, um abismo separa a Educação do resto do governo, com as exceções de praxe e observando as condições de trabalho e a autonomia de cada uma, concessão que não pode ser feita à Saúde.
Em comparação com a Educação, as duas são exatamente iguais: verbas próprias, possibilidade de gestão individualizada, por meio dos fundos municipais de ambas, o que significa autonomia total e dinheiro para garantir bons projetos.
Mas o que cada um fez com sua autonomia? Vieira, imitando algum desses personagens de causos e lendas – até bíblicas -, a vendeu, a troco de migalhas, em vez de cultivá-la – quando entregou a gestão do Fundo Municipal da Saúde à Secretaria da Fazenda.
Gustavo fez o contrário: enfrentou o secretário Carlos Burgos e fez o dote multiplicar sob seus cuidados. Com austeridade – qualidade checada por esse blogueiro junto a colaboradores insuspeitos – fez render os recursos que dispunha e hoje colhe louros.
É a melhor educação possível? Não. Mas tem o que mostrar, em termos de projetos, ações e resultados concretos, sem falar na satisfação – até o limite permitido pela luta de classes – do funcionalismo, que ainda não viu findar o ano e já dispõe de salário, 13º e terço de férias pagos.
E o que se vê na Saúde? Um secretário em vias de ser substituído, cuja passagem pela pasta não deixará saudades a ninguém. Nada que não pudesse ser consertado, quando foi alertado para o ato insano que era entregar à Fazenda o baú de recursos do Fundo Municipal da Saúde. Paga o preço da surdez e da subserviência.
Por outro lado, a turma da Educação também paga um preço, mas ninguém reclama. O preço da inveja de outros servidores. “Quando a gente passa pelos corredores da prefeitura, o que mais ouve são os sussurros dos colegas, dizendo ‘olha lá as primas ricas'”, lembra uma das ‘vítimas’, batendo na madeira para espantar o olho gordo.
A Educação tornou-se a Abbu Dhabi da prefeitura de Itabuna: localizada no coração do mesmo deserto, falando o mesmo idioma, obedecendo às mesmas leis, porém exibindo um espetáculo de desenvolvimento que não é visto no resto da vizinhança.
É, sim, a prima rica do governo Azevedo, e deveria servir de exemplo para o próximo secretário da Saúde. Que este, seja quem for, garanta, logo que chegue, a retomada do FNS das garras da Fazenda.
Uma jihad necessária.