Por Walmir Rosário

Mesmo com essa vida de aposentado, na qual não tenho a sagrada obrigação de cumprir os horários e prazos determinados pelos afazeres do estafante trabalho, escola e da intensa vida social, gosto de manter um ritmo de minhas atividades. Inclusive o agendamento para o fim de semana, iniciado no final de sexta-feira, passando pelos extensos compromissos do sábado e domingo.

Faço questão de jamais “furar” os agendamentos confirmados com a finalidade de não deixar ninguém aflito à minha espera numa mesa de bar, me arriscando a entrar para a lista dos indesejáveis, duvidosos e inconstantes. Aprendi com o colega de Ceplac, Jurimar Rebouças, que se você nunca vai a tudo que é convidado, seu nome passará não ser lembrado nem nos enterros, ou figurar nas seletas listas dos inconvidáveis, ou cancelados.

É certo que não compareço a tudo que sou convidado (alego questões superiores ou de agenda), mas nem por isso é que irei aos locais em que simplesmente não fui lembrado, chamado, solicitado. Ainda por cima, faço questão de chegar ao local aprazado sempre antes do horário, não porque queira ser conhecido pela refinada pontualidade britânica e sim para não perder os acontecimentos – do início ao fim.

Voltando ao cerne da questão, neste último fim de semana passei por questões complicadas, algumas justificáveis, enquanto outras nem tanto, porém deselegantes por não terem sido as escusas convincentes. Às vezes, a falha de um atrapalha mil (perdão pelo exagero), pois datas e horários são contados em folhinhas, relógios suíços de precisão, observatórios e outros meios científicos. Do contrário não seriam necessários.
Agendado estávamos desde a semana anterior para visitarmos alguns bares e amigos no sábado passado, quando surge o primeiro problema. Por Whatsapp recebo de Raimundo Tedesco a seguinte mensagem:

– O velhote Valdemar caiu e quebrou três costelas ao querer trepar numa velha cadeira para colocar um prego, lá na fazenda Broxolandia. Teimoso como todo velho, aos 82 anos tem que se convencer de que velho não trepa mais em nada. Agora está debaixo de ordem da mulher e reclamando de tudo e de todos, pra variar –.

Apesar de ser uma baixa importante, a comunicação foi perfeita para evitar rusgas ou desentendimentos futuros, possíveis, quem sabe(?), cisões entre membros do garboso Clube dos Rolas Cansadas. E fato de tamanha relevância reverberou na Bahia e no mundo, já que teve anúncio aos quatro cantos de Canavieiras pelas ondas da Rádio Sociedade da Bahia, com a consternação do comunicador Mario Tito sobre Valdemar.

Uma baixa, mesmo do nível de Valdemar Broxinha, não iria tirar o brilho do nosso evento, nem mesmo com a mudança do tempo, a queda da temperatura e a chegada de chuvas. Afinal, o Almirante Nélson confirmou presença, bem como ainda prometeu levar alguns convidados, recém-chegados de Salvador, e que prometiam passar um fim de semana bucólico, daqueles que não é mais possível vivenciar na capital.

No final da manhã, me apronto e apareço no bar Mc Vita, local do encontro, e nada dos convivas. Pelo telefone, passo a intimá-los, sobre o formal compromisso assumido. Como desculpas, fui obrigado a ouvir a culpa da temerosa chuva e da friagem. Lembrei-lhes da lição ensinada pelo confrade Tyrone Perrucho, que dizia serem os bares por nós frequentados providos de bons telhados e que pinga – dentro – era apenas a de garrafa.

Confesso que meus entusiamados discursos não comoveram os confrades a assegurarem a palavra dada e não cumprida. Com as diversas tentativas e ligações telefônicas, fui obrigado a ingerir duas cervejas quentes pela ação do tempo decorrido, apesar da temperatura fria. Mas eu ainda tinha um trunfo na mão e não iria voltar para a casa sem trocar um lero com um dos convidados.

Lembrei-me do amigo e irmão Gilson, que confirmou viagem de Itabuna a Canavieiras e que viria com a intenção de rever os amigos e tomar uns goles enqunto colocávamos a prosa em dia. Mas, sequer o Gilson aparecia. Enquanto isso, entre um gole de cachaça para esquentar o frio e uma cerveja para rebater, me pus a pensar se realmente valeria a pena ser tão pontual, até nas mesas de bares.

Lembrei de uma placa colocada no ABC da Noite, no Beco do Fuxico, em Itabuna, que determinava os rígidos horários de funcionamento estabelecidos pelo Caboclo Alencar, proibindo regalias e saideiras fora do pactuado. A contragosto, paguei a conta e abatido fui para casa descansar. Lá chegando recebo uma ligação de Gilson, confirmando sua chegada a Canavieiras e comunicando sua decisão de sentar num praça boteco.

Passei a relatar o acontecido e marcamos uma nova data e horário para este fim de semana, quando já deveremos contar com o restabelecimento de Valdemar Broxinha, o Almirante Nélson e outros faltosos. Espero que cada um deles conte suas aventuras pretéritas e peça as necessárias desculpas sobre as faltas injustificadas. Mas se assim não procederem serão perdoados. Por uma questão de amizade.
Este fim de semana promete!

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Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado