Chico Estevam
Após a abolição, jogados à própria sorte, sem direitos trabalhistas e sociais, esses trabalhadores passaram também a ser os primeiros excluídos e marginalizados de nossa região.
O escravismo e as relações sociais capitalistas deixaram um legado histórico perverso e excludente para o povo negro na região sul. Não podemos repetir modelos de crescimento que aumente o abismo social para negros, índios e brancos pobres.
A realidade do povo negro é cruel: mais de 10 milhões de mulheres negras já foram esterilizadas; somos a maioria dos desempregados. Como se não bastasse, a violência ceifa a vida dos jovens negros em todo o país e o sistema judiciário, associado ao econômico, vem confinando negros ao cárcere, aos campos de concentração brasileiros.
Em Itabuna, no conjunto da população, a parcela negra é a que mais sofre: a pobreza, fome e miséria (entre os indigentes, a maioria absoluta é negra); a falta de saneamento básico; o desemprego atinge grande parcela da população negra (a atual administração prometeu gerar empregos e não está cumprindo).
Os negros também sofrem com o fornecimento irregular no abastecimento de água, atendimento médico precário; trabalhos desumanos e insalubres dos garis, que são formados em sua maioria de negros e negras; a escola pública municipal deixa a desejar na qualidade de ensino, sendo necessário também melhorar a infra-estrutura das escolas.
O MNU – Movimento Negro Unificado encampa uma luta do povo negro contra o arrendamento e aforamento de terrenos em quase todos os bairros de Itabuna.
Isso prova que o poder público estadual e municipal tem dívida social e histórica com a população negra e indígena e é nesse contexto que se insere o debate da urgência de políticas públicas de ação afirmativa.
"Quem tem consciência para ter coragem, quem tem a força de saber que existe a engrenagem, inventa a contra-mola que resiste". Secos e Molhados.
Chico Estevam é coordenador do MNU – Movimento Negro Unificado